Livro cria movimento de solidariedade
para com a população carcerária

mar 4, 2021 | Artigos, Cultura

A Manifestação do Livro, organizada no dia 27 de Fevereiro de 2021, pelo Centro de Estudos UFOLO para a Boa Governação, levou à praça da Independência, em Luanda, 360 obras literárias de diversa índole, deixadas pelas mãos de 65 doadores, num evento cultural inédito, animado por um conjunto de músicos, poetas de spoken word e escritores.

Nunca antes a praça da Independência havia recebido no seu perímetro um evento com estas características, em que uma peça-chave da aquisição do Saber, o chamado Mestre-mudo, para além de estar a ser congregado para servir o objectivo de humanizar a vida da população carcerária em Angola, foi o protagonista principal.

O escritor José Luís Mendonça inaugurou a manifestação, por volta das 10 horas. Na sua breve intervenção, o também professor de português agradeceu à Biblioteca Nacional, à TPA e à ZIMBO TV, bem como ao escritor Luandino Vieira que, antecipadamente, decidiram apoiar a iniciativa com obras literárias. Além dos citados, o interveniente agradeceu ainda outros doadores que, em terras lusas, se propuseram a doar livros para os detidos nas cadeias angolanas.

“Um livro é sempre uma viagem pelo mundo fora e pelas vidas dos personagens das narrativas. Para um cidadão confinado por longo tempo num cárcere, a leitura constitui um meio de evasão e uma ferramenta de elevação da cultura geral. Por outro lado, o esforço humanitário anónimo com a doação dos livros resulta em solidariedade cívica que se agrega à iniciativa do centro UFOLO e que ecoa nas mentes dos beneficiários. Daí a sua tríplice importância”, disse o escritor.

De seguida, subiu ao palco o escritor Ondjaki que apelou aos angolanos e outras pessoas de boa vontade a associarem-se à manifestação do livro, um acto público sem sobressaltos cujo único objectivo é criar uma onda de solidariedade cultural para com os detidos.

O rapper MCK, que planificou o evento pelo centro UFOLO, convidou os presentes ao acto, para emprestarem o seu calor à festa do livro e da arte.

Até cerca das 15 horas, o público presente naquele Sábado de palavras temperadas no calor da solidariedade humana, teve o prazer de assistir ao show de artistas, rindo com os humoristas Gilmário Vemba e Tiago Costa, fazendo coro com os músicos MCK e Bruno M, Renata Torres e Mono Stére, ou as declamações de Sankofa, Irene Amosi, Fernando Carlos, Zola Kuzediua, a Dupla Ela e Elisângela Rita.

A livreria Cheik Anta Diop esteve presente com uma entrega de oito livros. O mesmo fez o escritor Job Grilo que doou 13 obras repartidas por dois títulos da sua autoria: O Canto do Libolo (novela) e Uma Travessia Dolorosa (teatro), bem como a escritora Yola Castro, com sete livros infantis. Doadores de mão cheia foram Katila Pinto de Andrade, com a entrega de 26 livros, Cristina Pinto (20 livros) e Wilson Cambulo (24). Mas até quem só tinha um livro não teve pudor em demonstrar que está com a causa da UFOLO. Assim o fez o jovem Ismael Kapita: “Eu soube deste evento pelo Facebook. E decidi apoiar mesmo só com este livro”, explicou o jovem com os olhos rasos de emoção.

Nem só de livros se manifestaram. Os doadores também fizeram a entrega de algum material didáctico, como cadernos escolares, esferográficas e lápis, pois que o projecto de apetrechamento e melhoria das condições de leitura nas prisões inclui a componente da alfabetização.

 

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