Levar a escola até aldeias angolanas longínquas, onde algumas crianças têm de caminhar 26 quilómetros para ir às aulas, é o objetivo de um projeto de professores-ambulantes que está a ser desenvolvido na província angolana do Bié.
O projeto está também a mobilizar o setor privado, para financiar um fundo que ajudará a custear, por exemplo, as despesas com os transportes, e pretende que a própria comunidade acompanhe o processo.
“Pelo estado do país, muitos já não acreditam que a educação seja importante para o futuro dessas crianças, para a vida dessas famílias. Acham mais importante a agricultura familiar, da qual dependem para o seu sustento. Por isso, é preciso convencer as comunidades a apoiarem a educação, para que estas crianças não tenham um dos seus direitos fundamentais coartado”, disse o responsável do Ufolo.
O projeto conta com um apoio inicial do Banco Millennium Atlântico e pretende também mobilizar financiamento de empresários locais e envolver parceiros, como as associações de mototaxistas e taxistas, que poderão ter também benefícios, como o selo “Amigos da Educação”.
A ideia, segundo Rafael Marques, é que os que adiram ao selo se confrontem “menos com os impedimentos que se verificam no quotidiano do trânsito em Angola”, melhorando a sua relação com a polícia.
Por outro lado, também os professores, muitos dos quais sem capacidade financeira para suportar os preços das viagens, beneficiarão de tarifas especiais, com os taxistas a serem compensados através do fundo.
“A questão é que, por falta de transportes públicos e de medidas institucionais, a médio e longo prazo não podemos deixar que estas crianças continuem a ser penalizadas, porque é uma violação constitucional de um direito fundamental”, concluiu o ativista.
Rafael Marques esteve presente, no Bié, a 27 de maio, num encontro sobre mobilidade de professores e alunos, que reuniu várias entidades com o intuito de procurar soluções logísticas e educativas para as crianças das comunidades longínquas, de difícil acesso e exclusivamente dependentes da agricultura de subsistência.